Ecoturismo sem sufoco na Chapada das Mesas no Centro-Sul do Maranhão

Com atrações de fácil acesso, o destino maranhense é ideal para quem busca contato com a natureza sem enfrentar longas caminhadas.


Portal da Chapada
Se quando você pensa em uma chapada o que lhe vem à cabeça são cachoeiras deslumbrantes, poços de água cristalina, entardeceres inesquecíveis e longas caminhadas em meio à natureza, você está quase certo. A Chapada das Mesas, no Maranhão, na fronteira com o Tocantins, tem todas as belezas naturais que se espera encontrar em regiões com esse tipo de formação geológica – áreas de terras elevadas com topo plano. Há uma diferença, no entanto: nenhum dos seus principais atrativos exige grande esforço físico, fazendo desta uma viagem acessível para diferentes idades e condicionamentos.

A Chapada das Mesas tem um rol de atrações que valem a viagem. Para quem vem de outros estados, a melhor maneira é voar até Imperatriz, cidade mais próxima com aeroporto, depois, cruzando 220 km pelas icônicas rodovias Belém-Brasília e Transamazônica, chega-se à pequenina Carolina, porta de entrada para conhecer a região. A simpática cidade concentra as principais opções de hospedagem e alimentação, além de receptivos que organizam passeios para os atrativos. Nos meses de férias, o agito é grande, principalmente de moradores das redondezas, mas na baixa temporada a vida passa tranquilamente.

O período da estiagem segue até outubro, garantindo dias ensolarados para quem quer explorar o local. Depois, de novembro a abril, o céu pode ficar nublado, mas as chuvas deixam o cerrado mais exuberante e as temperaturas levemente mais baixas.

Em quatro dias é possível conhecer as principais atrações do destino. Escolha as suas datas e descubra como organizar a sua visita à Chapada das Mesas.

Dia 1: mergulho em águas cristalinas

Encanto Azul
Para começar a viagem com o crème de la crème da Chapada das Mesas, dedique o primeiro dia às águas mais cristalinas da região. Para chegar ao Encanto Azul, no município de Riachão, é preciso percorrer 134 quilômetros20 km em estrada de terra. Mas a recompensa é uma nascente entre rochas calcárias com águas cujos tons variam entre azuis e verdes, dependendo da posição solar (informe-se antes sobre o melhor horário para visitação). Sem muita estrutura turística, o atrativo tem ares paradisíacos.

O Complexo Santa Bárbara, pertinho dali, é a parada certeira para o almoço, mas não só. Rivalizando em beleza com o Encanto Azul, o Poço Azul é abastecido pelas águas refrescantes do Rio Cocal, que convidam a um mergulho demorado. Reza a lenda que o local foi descoberto quando um boi da fazenda que ocupava a propriedade desapareceu e o caseiro, depois de muito procurar, encontrou-o dentro d’água.

Com uma queda de 70 metros, a Cachoeira Santa Bárbara, que dá nome ao complexo, tem uma beleza mais selvagem. Ali não é possível mergulhar, mas a força das suas águas pede alguns minutos de contemplação – e o visitante sai de lá quase tão molhado como se tivesse nadado.

Dia 2: desbravando o Parque Nacional

Para conhecer as atrações que ficam dentro do Parque Nacional da Chapada das Mesas, é preciso percorrer mais de 50 km em estrada de terra, além de 30 km no asfalto. Devido às más condições das rodovias, o trajeto torna-se longo e cansativo, mas o prêmio é a impressionante Cachoeira de São Romão, a maior em volume de água do Maranhão e cenário perfeito para um passeio de caiaque. A Cachoeira do Prata, que fica a 28 km dali e tem uma sequência de três quedas-d’água formadas pelo Rio Farinha, completa o passeio.

Cachoeira de São Romão e Passeio de caiaqu.
Deusivan da Silva Carneiro vive à beira do rio desde que nasceu e costuma receber os turistas com tapioca feita na hora ou com o tradicional bolo frito – cuja textura lembra o pão de queijo – e está sempre disposto a uma boa conversa. Ao lado da mulher, Ofélia, e do filho, Manuel, ele é um dos últimos moradores das redondezas, já que, desde a criação do parque nacional, em 2005, várias famílias estão sendo deslocadas para que a área seja preservada. “Aqui é mais tranquilo, não tem bandido. Eu morei só cinco meses na cidade, quando tinha 20 anos, e não gostei”, conta. “Se eu conseguir uma boa indenização pela minha propriedade, pretendo comprar uma terrinha para fazer uma roça”, completa.

Dia 3: atrações para todos os gostos

Uma antiga fazenda a 35 quilômetros do Centro de Carolina foi transformada em um gigantesco empreendimento turístico, com cachoeiras, esportes radicais e até hospedagem: o Complexo da Pedra Caída. Na chegada o visitante é apresentado às atrações e escolhe quais quer conhecer – além dos R$ 60 de ingresso, que dá direito ao uso das piscinas, cada atividade é paga à parte. A mais popular é a Cachoeira do Santuário, de onde a água despenca de uma altura de 46 metros. Para chegar até ela é preciso fazer uma caminhada de cerca de 600 metros por uma trilha ecológica que passa por dentro de enormes paredões de pedra com aproximadamente 50 metros de altura.

Prirâmide para meditação, no Pedra Caída.
Outros atrativos imperdíveis são as cachoeiras da Caverna e do Capelão. A primeira tem uma queda d’água de 12 metros de altura que pode ser alcançada depois que se atravessa uma pequena caverna. A segunda tem um poço menor – ótimo para levar crianças, portanto –, e a água escorre tranquilamente por um paredão de 22 metros com fendas extremamente lisas, numa textura impressionante.

Porém, não pense que as atrações se limitam às belezas naturais. A propriedade conta com um teleférico para levar os visitantes à sua parte mais alta. No topo, uma pirâmide de vidro, bem ao estilo do Louvre, é a sensação do lugar. Ali são realizadas sessões de meditação e outras práticas que promovem o bem-estar da mente. A volta pode ser feita pela Tirolesa do Desespero, que, com 1,4 km, garante uma dose de emoção suficiente para acabar com qualquer estado meditativo.

Vale incluir no mesmo dia uma ida ao mirante do Portal da Chapada. Naturalmente esculpida na rocha, essa abertura tem uma das mais belas vistas da região. De lá é possível observar algumas das “mesas” – os platôs que inspiraram o nome da Chapada – da região. No início do dia, o sol nasce por trás do Morro da Cangalha. E, no entardecer, o majestoso morro fica todo iluminado pela luz alaranjada do pôr do sol.

Dia 4: uma imersão no Cerrado

Carolina fica na fronteira do Maranhão com o Tocantins, separada do estado vizinho apenas pelo Rio Tocantins. Do outro lado do rio, que pode ser atravessado de balsa, o Refúgio Ecológico Torre da Lua tem diversas opções de trilhas em meio ao cerrado praticamente intocado, com mirantes de onde se pode observar a grande quantidade de platôs da Chapada.

Trilha no Refúgio Ecológico, Torre da Lua.
Para os mais aventureiros, a Trilha do Tributo tem um percurso de mais de 1o km, que pode ser vencido com uma caminhada de aproximadamente cinco horas. Do ponto mais alto, tem-se uma vista panorâmica de toda a região. Mas há também opções de trilhas mais curtas, como a da Onça, de 3 km, que pode ser feita de bicicleta e inclui até uma refrescante parada para banho nas águas claras do RioMatrinxã.

Pôr do sol no Rio Tocantins.
O dia termina a bordo de uma voadeira no Rio Tocantins, em direção a Carolina. O pôr do sol ali, que tinge o céu de tons que vão do laranja ao rosa, é daqueles para ficar na memória. Um encerramento poético para esta viagem pelo interior do Brasil.

Por: Marina Azaredo | fotos: Valdemir Cunha e Shutterstock