MP denuncia Roseana Sarney por prejuízo aos cofres públicos no Maranhão
Esquema fraudulento causou prejuízo de mais de R$ 400 milhões. Outras 10 pessoas também estão sendo investigadas pelo órgão ministerial.
A ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, foi denunciada
pelo Ministério Público do Maranhão (MP-MA) por suposto esquema fraudulento de
concessão de isenções fiscais pela Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) a
empresas, que causou um prejuízo de R$ 410 milhões aos cofres públicos. Outras
nove pessoas também foram denunciadas, entre elas ex-gestores, servidores
públicos e outros envolvidos em práticas criminosas.
A assessoria de
Roseana Sarney informou que "a ex-governadora não tem conhecimento do
que trata a ação e reafirma que em todas as decisões tomadas em benefício do
Estado agiu com respeito às leis, sempre orientada pela Procuradoria Geral do
Estado do Maranhão".
O titular da 2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem
Tributária e Econômica de São Luís, Paulo Roberto Barbosa Ramos, considera o
grupo uma organização criminosa responsável pela realização de compensações
tributárias ilegais, implantação de filtro no sistema da secretaria para garantir
essas operações tributárias ilegais e fantasmas, reativação de parcelamento de
débitos de empresas que nunca pagavam as parcelas devidas, exclusão indevida
dos autos de infração de empresas do banco de dados e contratação irregular de
empresa especializada na prestação de serviços de tecnologia da informação, com
a finalidade de garantir a continuidade das práticas delituosas.
Segundo a Coordenação de Comunicação do Ministério Público
do Maranhão, o nome do 11º envolvido nas investigações do órgão ministerial
ainda será divulgado.
Os outros envolvidos na investigação são o ex-secretário de
Estado da Fazenda, Cláudio José Trinchão Santos; o ex-secretário de Estado da
Fazenda e ex-secretário-adjunto da Administração Tributária, Akio Valente
Wakiyama; o ex-diretor da Célula de Gestão da Ação Fiscal da Secretaria de
Estado da Fazenda, Raimundo José Rodrigues do Nascimento; o analista de
sistemas Edimilson Santos Ahid Neto; o advogado Jorge Arturo Mendoza Reque
Júnior; Euda Maria Lacerda; os ex-procuradores gerais do Estado, Marcos Alessandro
Coutinho Passos Lobo e Helena Maria Cavalcanti Haickel; e o ex-procurador
adjunto do Estado do Maranhão, Ricardo Gama Pestana.
Segundo Barbosa Ramos, "o modus operandi da organização
criminosa envolvia um esquema complexo, revestido de falsa legalidade baseada
em acordos judiciais que reconheciam a possibilidade da compensação de débitos
tributários (ICMS) com créditos não tributários (oriundos de precatórios ou
outro mecanismo que não o recolhimento de tributos)".
"Não bastasse isso, em diversas ocasiões, foi
implantado um filtro para mascarar compensações realizadas muito acima dos
valores decorrentes de acordo homologado judicialmente”, redigiu o promotor, na
denúncia.
Barbosa Ramos destacou, ainda, que os gestores do período de
14 de abril de 2009 a
31 de dezembro de 2014 ignoraram os procedimentos administrativos
característicos da administração pública ou simplesmente deram sumiço a eles
após praticarem seus crimes.
“Para consolidar a sangria dos cofres públicos sem gerar
qualquer suspeita, os secretários da Fazenda deixaram de aprimorar o sistema de
tecnologia da informação da Sefaz, permitindo aos membros da organização
criminosa reativar frequentemente parcelamento de débitos de empresas que nunca
pagavam as parcelas devidas e, ao mesmo tempo, excluir indevidamente autos de
infração do banco de dados, acarretando ainda mais prejuízos aos cofres
públicos em proveito próprio e de terceiros”, afirmou o membro do MPMA.
"Permuta" de empresas
O Ministério Público enfatizou que o esquema foi aperfeiçoado
a partir de 15 de outubro de 2013 quando a empresa Auriga Informática e
Serviços Ltda foi formalmente substituída em “um nebuloso processo licitatório”
pela empresa Linuxell Informática e Serviços Ltda".
O órgão ministerial inteirou, ainda, que,mesmo com a
substituição, a empresa Auriga Inbformática continuou a restar serviços
enquanto a empresa substituta estava com contrato formalmente assinado para
prestar o mesmo serviço. "O fato é que a Secretaria de Estado da Fazenda
pagou ao mesmo tempo duas empresas por um mesmo serviço que até então era
executado por apenas uma”, destaca a denúncia.
Foi pontuado pelo promotor de Justiça, na denúncia, que alguns funcionários da terceirizada
Linuxell Informática e Serviços Ltda eram, ao mesmo tempo, comissionados da
Sefaz, demonstrando “a grande ousadia da organização criminosa, respaldada pela
convicção de que todos os crimes praticados permaneceriam impunes".
Participação no esquema
Segundo o MP, a organização se respaldava com “o decisivo
beneplácito de Roseana Sarney Murad”, uma vez que ela “autorizou acordos
judiciais baseados em pareceres manifestamente ilegais dos procuradores-gerais
do Estado por ela nomeados”. Roseana também teria nomeado para cargos em
comissão 26 terceirizados da Linuxell, para que desempenhassem na Sefaz as
mesmas funções para as quais estavam contratados pela empresa Auriga.
O titular da 2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem
Tributária e Econômica apontou que Marcos Alessandro Coutinho Passos Lobo,
Helena Maria Cavalcanti Haickel e Ricardo Gama Pestana assinaram pareceres
manifestamente contrários ao art. 170 do Código Tributário Nacional, com o
único objetivo de “desviar dinheiro público, em proveito próprio ou alheio,
valendo-se da condição estratégica do cargo que ocupavam”.
Na denúncia, o MP indica ainda que compensações de créditos
não tributários por tributários não ocorriam no Maranhão desde 2004, ano em que
a Lei Estadual nº 8.152/2004 revogou a Lei Estadual nº 7.801/2002. Portanto,
entre 2004 a
2009, nenhum crédito de origem não tributária tinha sido compensado por débito
de origem tributária.
“De repente, com a chegada de Cláudio Trinchão e Akio
Valente à Sefaz essa situação mudou drasticamente. É como se tivessem
descoberto uma forma de produzir dinheiro em velocidade maior que a Casa da
Moeda. Somente de 17de abril de 2009
a 31 de dezembro de 2014, foram efetuadas 1.913
compensações. Isso mesmo. De praticamente nenhuma em toda a história do
Maranhão, como em um passe de mágica, milhares de compensações em série
passaram a ser feitas, tudo isso sem qualquer observação aos parâmetros legais
e constitucionais e ainda utilizando-se de fraude”, afirmou Barbosa Ramos.
Fonte: G1 MA
Fonte: G1 MA
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