"A Estrada Dos Sonhos" - Documentário sobre a MA-318

Uma estrada entre os municípios de Bom Jardim e São João do Caru. Um sonho de toda a população desse imenso território, localizado na região Oeste do Maranhão.

Documentário produzido em 2009 sobre a MA-318, estrada que interliga os municípios de Bom Jardim e São João do Caru, mostra sofrimento de moradores e de quem dependia da rodovia estadual para se locomover. Na época, o Doc foi dirigido e editado por Paulo Montel, hoje blogueiro e redator do blog paulomontel.com.

Diferente do formato original, o vídeo teve algumas partes removidas por conter trilhas sonoras protegidas por direitos autorais, mas nada que pudesse mudar significativamente o sentido de seu conteúdo.

O Documentário

Uma floresta a perder de vista indica a quem visita a região do Pindaré que estamos adentrando a Floresta Amazônica.

As riquezas do eco sistema são uma contradição com a pobreza do povo que habitam estas matas da pré-amazônia. O descaso aponta para o desinteresse público, que durante décadas submeteu a população ao sofrimento em todas as estações do ano.

Viajando em terras maranhenses, são cerca de 100 km da BR-316, ao município de São João do Caru. Até lá, o desafio é tão grande quanto a Amazônia que começamos a descortinar pela Rodovia MA-318.

Uma estrada entre os municípios de Bom Jardim e São João do Caru. Um sonho de toda a população desse imenso território, localizado na região Oeste do Maranhão.

Em 1994 a lei número 6125 desmembrou São João do Caru do município de Bom Jardim. A criação do novo município renovou a esperança do povo de que a transformação da estrada vicinal em rodovia estadual trouxesse o progresso para a região, mas a autonomia política de São João do Caru não rendeu os benefícios esperados pela população, e as vésperas de completar 15 anos de emancipação a estrada ainda é o maior desafio das autoridades locais.

Com o advento do município de São João do Caru, tanto os moradores do novo município como a população de Bom Jardim, que ficaram as margens da MA-318, passaram a sofrer ainda mais com a falta de condições de trafego entre as duas cidades durante as chuvas.

A mesma chuva que garante o sustento das pessoas que dependem da mata e do rio, destrói a única via de acesso por terra entre os dois municípios.

Quando o inverno chega, só restam os Rios Pindaré e Caru como via de integração, um exercício de paciência e perigo.

O Povoado Santa Luz é o ponto de partida, os roncos dos motores quebra o silencio das matas do Pindaré, em embarcações super lotadas com risco de alagamentos constantes, numa aventura perigosa que pode durar até 15 horas entre Bom Jardim e São João do Caru.

São Muitas as vidas marcadas pelas tragédias, são muitas as famílias que perderam entes queridos nessa viagem.

Registros de momento de pânico nas águas do Rio Pindaré. Devido ao excesso de peso, uma lancha estava correndo risco de naufragar, a sorte era que havia outra embarcação por perto, o que é raro durante as viagens.

Para tentar salvar a filha e a se mesma uma mulher se desespera e por pouco não cai entre as duas lanchas. Ao entregar a filha a uma mulher que estava na outra embarcação, ela se apressa para resgatar a bagagem.

Em terra firme e com a criança nos braços, a mulher tem a certeza de que jamais esquecerá esse dia. Com a situação resolvida, a lancha segue rio a cima com destino a São João do Caru.

As lanchas levam de tudo, de gente aos mais variados gêneros que abastecem São João do Caru, como material de construção, arroz, remédios, e até o material didático que será usado no ano letivo.

No Povoado Mineirinho, deixamos o Rio Pindaré para seguir viagem pelo Rio Caru, a próxima parada é um dos povoados mais importantes a margem do rio.

Em Novo Caru os aventureiros param para jantar e se refazerem da exaustiva viagem, alguns ficam e outros seguirão. Em cada esquina do povoado uma história interessante. Apenas no meio da viagem, até São João do Caru são mais seis horas de navegação.

A lancha ancora trazendo esperança para uns, matando a saudade de outros.

O que mais marca essa população é o abandono.

Pela estrada de chão, a partir de janeiro já não tem mais trafego. Ao primeiro sinal de chuva apenas poucos moradores da região se arriscam a deixar suas localidades, e a situação vai piorando a cada nova chuva.

As dificuldades impostas pelas péssimas condições da rodovia favorecem ao roubo, assalto, e até mesmo assassinatos.

Os motoboys são outras vitimas potenciais.

O terreno desafiador torna-se campo propicio para os mototaxistas aumentarem o faturamento, mas o frete, também se converte em risco de morte por causa dos constantes assaltos aos motoqueiros.

Uma motocicleta na região tem inestimável valor, justamente, por causa da facilidade que este veículo tem de percorrer as poucas trilhas.

Na estrada um morador da uma mãozinha aos pilotos. “Aquele lameiro ali tem que botar palha três vezes pra segurar até de tarde...”

Nem mesmo as maquinas feitas para estradas complicadas suportam as condições do caminho, e quebram no viagem.

Duas crianças servem de vigia para o trator que não resistiu à lama e também quebrou. O operador teve de volta a pé, cerca de 20 km, para buscar socorro.

Diversão mesmo só para os amantes dos esportes radicais, mas nem eles estão livres da dor de cabeça.

Uma turma resolveu promover um rally em plena rodovia. Carros com tração nas quatro rodas dividem a trilha com quadrículos, motocicletas e caminhonetes que carregam passageiros.

A falta de estrada afeta diretamente a geração de renda. Com suas bases no setor primário, a região sobrevive da agricultura de subsistência e da pesca em viveiros.

Os açudes se multiplicam na região.

Escoar a produção é uma tarefa difícil, pois sem a facilidade do transporte, muito do que é produzido estraga na viagem.

Para os pecuaristas a situação é ainda pior, o manejo do gado tem de ser feito a pé e com isso o gado perde calorias e peso, onerando a produção e reduzindo os lucros.

A equipe acompanhou o aposentado Nazareno de Araújo, de 77 anos, morador do Povoado Turizinho dos Costas, em uma viagem longa e exaustiva até o povoado Novo Caru.

Foram duas horas de caminhada até a MA-318.

O aposentado mostra um novo atalho para chegar na vicinal que da acesso ao Povoado Novo Caru, o caminho é desafiador e cheio de obstáculos.

Depois de seis horas de viagem Seu Nazareno chega ao povoado.

Se a MA-318 estivesse na prática como está no papel, essa viagem seria feita em apenas uma hora até Bom Jardim.

No dia seguinte, a equipe se desencontra do aposentado, mas encontra outros personagens que deram vida e continuidade a este documentário.

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